10 anos de The Witcher 3: RPG da CD Projekt foi marco para indústria e continua como referência para RPGs e jogos de mundo aberto post thumbnail image
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Jogo da polonesa CD Projekt Red também ampliou mercado para desenvolvedoras de países até então com pouca visibilidade no mainstream

Há pouco mais de 10 anos, em 19 de maio de 2015, a CD Projekt Red lançou um jogo que se tornou um dos lançamentos de maior impacto na indústria dos games nas últimas décadas, exercendo enorme influência sobre diversos RPGs e jogos de mundo aberto lançados depois dele. Mundialmente aclamado por crítica e público e vencedor de 260 prêmios de Jogo do Ano, incluindo o GOTY em eventos como The Game Awards, Golden Joystick, Game Developers Choice Awards, South by Southwest e New York Game Awards, The Witcher 3: Wild Hunt foi um marco na indústria e alcançou recentemente o marco de 60 milhões de cópias, com um ciclo de vendas extremamente sólido ao longo de uma década.

Em abril de 2022, por exemplo, o jogo alcançou o número de 40 milhões de jogos vendidos, o que significa que, somente nos últimos 3 anos, The Witcher 3 vendeu mais 20 milhões de unidades, consolidando-se ainda mais um dos títulos com melhor ritmo de vendas da história. Dentre os fatores para o grande sucesso do jogo, estão elementos que, somados, ajudam a explicar esse fenômeno, desde a qualidade do título em si até a enorme quantidade de conteúdos, sistema de RPG rico em escolhas e um mundo sempre com novos segredos a serem desvendados, sempre respeitando a progressão e liberdade dos jogadores.

Mundo aberto vivo e sistema de escolhas com consequências reais

Muito se fala sobre o enorme impacto visual que The Witcher 3 causou quando foi lançado em 2015, mas o que realmente faz do trabalho da CD Projekt Red um jogo extraordinário reside em seu sistema de escolhas e mundo aberto vivo, que quanto mais é explorado, mais surpresas revela. Em um mundo no qual a moral da maioria dos personagens é cinzenta, as escolhas muitas vezes coloca o jogador em dilemas reais. Qual a escolha certa a se fazer? Afinal, existe uma escolha realmente correta? Quais são as consequências de cada decisão tomada?

Para muitas dessas perguntas, não há uma resposta correta ou previsível, e sim apenas a consciência do jogador o guiando rumo a um desfecho que pode não necessariamente ser o desejado. Afinal, The Witcher 3 nem muitas borra as linhas que separam o “certo” e “errado”, e toda a linha de quests envolvendo o Barão Sanguinário são o primeiro grande exemplo disso na campanha. O destino de Keira Metz, a ambiciosa feiticeira que busca a todo o custo sair da miserável Velen, pode ter um destino um tanto trágico dependendo da decisão que tomarmos, mas o jogo nunca nos dá respostas óbvias sobre as consequências de várias das escolhas que fazemos.

SISTEMA DE ESCOLHAS DE THE WITCHER 3 COLOCA JOGADORES EM DILEMAS MORAIS COMPLEXOS

O próprio arco de missões da expansão Blood and Wine, considerada até hoje uma das melhores já criadas para um jogo, resulta em escolhas morais complexas e determinantes para o destino das irmãs Anna Henrietta e Syanna e do vampiro Dettlaff, e até mesmo missões secundárias menores do jogo e sem grandes sequências para a história principal muitas vezes nos colocam em situações difíceis e que nos fazem pensar nas consequências de nossas escolhas. Seja na linha principal de histórias ou nas quests opcionais, The Witcher 3 sempre surpreende os jogadores, e mesmo quando tomamos uma decisão ou conjunto de escolhas, muitas vezes as consequências dessas decisões só serão perceptíveis muitas horas depois, o que torna o peso do caminho que trilhamos ainda mais significativo, especialmente se jogarmos às cegas, sem saber o desdobramento de nossas decisões de imediato.

Além da excelente construção do sistema de escolhas, o mundo aberto de The Witcher é incrivelmente satisfatório de se explorar, não apenas ambientação belíssima e rica em detalhes, mostrando paisagens e construções belíssimas de regiões como Toussaint, Novigrad, Ilhas Skellige, Pomar Branco e Kaer Morhen, mas também pelos segredos escondidos nesses locais. Baús de tesouros, cartas deixadas para trás por alguém que morreu, relatos de soldados que pereceram na guerra, diagramas para a criação de armaduras e espadas de bruxo, locais de poder e quests secundárias dramáticas ou repletas de humor ácido e sarcasmo. Por onde quer que passemos, The Witcher 3 esconde uma novo segredo a ser descoberto, e é justamente por isso que o mundo construído pela CD Projekt Red é tão satisfatório de ser explorado.

No lugar de criar simplesmente um mundo aberto gigantesco, mas vazio ou com missões desinteressantes, um problema recorrente em jogos com enormes mapas, o RPG de ação faz o jogador sentir que realmente está explorando um mundo vivo e repleto de recompensas a serem achadas por nós, jogadores. É justamente esse senso extremamente satisfatório de exploração e descoberta que diferenciou The Witcher 3 de tantos outros jogos com propostas similares lançados antes e depois dele, e não é por acaso que o título segue como uma referência para outros projetos mesmo 10 anos depois

mUNDO ABERTO DE THE WITCHER 3 ESCONDE INÚMEROS SEGREDOS A SEREM DESCOBERTOS PELO JOGADOR

Sistema variado de builds molda a gameplay de cada jogador

Além de uma história extremamente bem desenvolvida, personagens interessantes e um mundo aberto extremamente recompensador de ser explorado, The Witcher 3 tem um sistema de combate extremamente adaptável ao estilo de cada jogador, com builds focadas em dano e força bruta, agilidade e recuperação de vigor, maior resistência, uso de sinais de bruxo ou resistência à toxicidade, que permite que tomemos um enorme número de poções e elixires sem que Geralt fique debilitado e tenha sua barra de vida consumida.

Para cada novo contrato de bruxo ou missão que exige que matemos um tipo específico de monstro, há um sinal, poção ou bomba específica, e essa preparação antes de cada nova luta faz a diferença. Esse aspecto estratégico é especialmente importante na dificuldade marcha da morte, principalmente se habilitarmos a opção em que o nível de nossos oponentes fica sempre próximo ao nível de Geralt. The Witcher 3 pode ser um jogo extremamente acessível nas menores dificuldades, o que inclusive o permite ser aproveitado por um público mais amplo, mas exigirá capacidade de adaptação dos jogadores que optarem por jogar na dificuldade mais elevada.

Os conjuntos de armadura de bruxo, por exemplo, afetam diretamente a gameplay. O conjunto da Escola do Gato, o meu preferido, confere a Geralt mais dano em ataques rápidos e recuperação mais rápida de vigor durante as lutas, enquanto o conjunto da Escola do Urso é ideal para quem prefere investir em alta resistência e maior dano de ataques pesados. O conjunto da Escola do Grifo, por outro lado, é o mais indicado para quem prefere investir numa build focada no uso de sinais como Quen, Aard, Igni e Yrden, e é nessa flexibilidade que o jogo mais se destaca.

Ainda que haja um amplo espaço para melhorias no combate de The Witcher 4, o combate de The Witcher 3 ainda se destaca por oferecer aos jogadores formas variadas de lutar e superar desafios, seja repelindo ataques de inimigos, esquivando ou usando sinais para desarmar a defesa de soldados para finalizá-los em seguida. Seja você um jogador com uma postura mais defensiva e que prefere a segurança defensiva do Quen ou alguém que prefere adotar uma postura mais agressiva com o Aard e o Igni, o RPG de ação da CD Projekt Red sempre dá opções para que as lutas sejam abordadas de formas distintas, e é por isso que mesmo em seu ponto mais fraco, o combate, The Witcher 3 ainda se destaca por sua versatilidade e adaptabilidade ao estilo de cada jogador com as ferramentas que oferece.

O impacto de The Witcher 3 na indústria

Mais de 10 anos após seu lançamento, The Witcher 3 se consolidou não apenas como um dos jogos mais populares da história, com as recém-atingidas 60 milhões de cópias vendidas, mas também como um dos mais impactantes e influentes. Para além de um sistema de decisões com consequências muitas vezes imprevisíveis, um mundo aberto verdadeiramente recompensador de se explorar e um sistema de combate que permite builds e abordagens distintas de acordo com o estilo de cada jogador, o RPG da CD Projekt Red abriu caminho para que outras desenvolvedoras de mercados até então vistos como periféricos ganhassem mais visibilidade.

Como uma desenvolvedora polonesa, a CD Projekt Red precisou trilhar um caminho naturalmente mais tortuoso que estúdios de grandes mercados como Japão, Estados Unidos, Reino Unido e França e Canadá até finalmente alcançar o atual status e, coincidentemente ou não, desenvolvedoras de outros países também vistos como periféricos no desenvolvimento de jogos também conquistaram um lugar de destaque nos últimos 10 anos, mesmo que já estivessem na indústria criando ótimos jogos mesmo antes de 2015. Dentro da própria Polônia, a 11 Bit Studios conquistou grande destaque com os dois ótimos títulos da franquia Frostpunk, enquanto a Techland, famosa por franquias como Dead Island e Dying Light, se consolidou como uma das maiores desenvolvedoras do país.

Ao longo da última década, o estúdio ZA/UM, da Estônia, criou o aclamado RPG Disco Elysium, de 2019, enquanto a Larian Studios, desenvolvedora belga fundada em 1996, alcançou seus dois maiores sucessos na última década, com os excepcionais Divinity: Original Sin 2 e Baldur’s Gate 3. A sueca MachineGames, fundada em 2009, se consolidou como um dos estúdios mais respeitados da Europa com Wolfstein II: The New Colossus, e lançou recentemente o aclamado Indiana Jones e o Grande Círculo.

Nesse período, a dinamarquesa IO Interactive também lançou três jogos de sucesso da nova trilogia de Hitman, enquanto a PlayDead, também da Dinamarca, lançou o aclamado game independente Inside. Em 2023, a Geometric Interactive, outro estúdio independente dinamarquês fundado pelo game designer de Limbo e Inside, Jeppe Carlsen, se tornou um dos títulos mais aclamados de 2023. A finlandesa Remedy Entertainment, que desde os anos 2000 tem destaque na indústria com franquias como Max Payne e Alan Wake, lançou ao longo da última década jogos como Quantum Break, Control e o aclamado Alan Wake 2.

Ainda que esses títulos não se assemelhem a The Witcher 3 em diversos aspectos e tenham uma proposta de gameplay bastante distinta do título da CD Projekt, o sucesso do RPG de ação de 2015 parece ter ampliado a visibilidade de desenvolvedoras fora do eixo dos principais mercados, até mesmo no caso de estúdios que já tinham uma história com títulos muito elogiados desde bem antes de 2015. A ampliação de mercado para outros países, seja em projetos de maior ou menor escopo, é positiva para a indústria à medida que descentraliza a produção de jogos e mostra que há enorme riqueza criativa fora dos principais mercados.

Passados 10 anos desde o lançamento, The Witcher 3 segue como um marco na indústria, e ainda que a CD Projekt Red precise provar em The Witcher 4 que não repetirá a postura adotada no desastroso lançamento de Cyberpunk 2077, o fato é que o RPG de 2015 da desenvolvedora polonesa se consolidou como um dos maiores mais influentes jogos da história da indústria de games.

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