Um acerto em cheio da SEGA que traz de volta uma franquia muito amada
Como reviver uma franquia parada há quase 15 anos? Esta provavelmente foi a pergunta feita pela SEGA nos estágios iniciais do desenvolvimento de Shinobi: Art of Vengeance. Um clássico da época do Mega Drive esquecido com o tempo, apesar de ser amado por quem teve contato com a série, era um pote de ouro apenas esperando para ser reencontrado. Com a ajuda da incrível LizardCube, podemos cravar que Shinobi voltou com toda a glória que merece.
O jogo pertence a uma iniciativa da SEGA que promete reviver diversas franquias da empresa, como Jet Set Radio, Crazy Taxi e Golden Axe. Esta proposta, anunciada no The Game Awards 2023, não poderia ter começado melhor.
Já tinha tido a oportunidade de testar Shinobi: Art of Vengeance durante a Retrocon 2025, em uma experiência breve, mas que já havia me impressionado muito pela fluidez do combate e pelo incrível estilo visual. Tendo feito 100% do jogo, reitero que é uma jornada incrível e essencial para fãs de um bom jogo de ação 2D com pitadas de metroidvania.
Mas afinal, como é jogar Shinobi: Art of Vengeance?
Na campanha acompanhamos o retorno de Joe Musashi, líder do clã Oboro, que vê sua vila ser atacada logo na introdução e parte em busca de vingança contra o vilão Lord Ruse, dono da organização paramilitar ENE Corp. A história apresenta figuras como sua esposa Naoko e sua aprendiz Tomoe e serve de contexto para combates intensos contra soldados futuristas, demônios e ninjas.
A estética do jogo combina o que a LizardCube já havia apresentado em Streets of Rage 4 com uma arte feita totalmente à mão, em uma vibe que se aproxima de Okami, criando cenários maravilhosos e personagens cheios de personalidade. Ambientes como montanhas, campos de capim, laboratórios secretos, desertos, cidades neon, festivais de luzes e outros vão maravilhar todos os jogadores que colocarem os olhos em todo o trabalho dessa talentosíssima equipe. A qualidade de composição destes planos de fundo é plenamente capaz de rivalizar com jogos como Hollow Knight, Ori e Blasphemous.
Já a jogabilidade mantém o DNA clássico, particularmente de Shinobi 3, mas expande em escala e profundidade. Joe conta com ataques rápidos, fortes, uso de kunais e combos que podem ser combinados entre si para criar soluções para cada tipo de inimigo encontrado. O combate é satisfatório e “crocante”, contando com um ótimo feedback sonoro, tátil e visual, por meio de seu sound design, vibração do controle e frames de impacto.
A movimentação também é precisa e variada, contando com pulos duplos, esquivas aéreas e no chão e escalada, disponíveis já no início de sua jornada. Mais opções avançadas serão desbloqueadas posteriormente.
Outra mecânica central é a execução shinobi, em que um símbolo Kanji aparece em cima de seu oponente ao preencher uma barra de postura, permitindo uma finalização instantânea, podendo ser feita em mais de um inimigo ao mesmo tempo. Assim é criado quase como um minigame em cada combate ao tentar encadear o maior número de execuções com uma simples combinação de R1+L2.
Poderes mágicos também estão presentes no arsenal de Joe Musashi por meio de seus Ninpos e Ninjutsus, respectivamente, ataques especiais, que podem ser utilizados gastando uma barra que se preenche ao atacar; e habilidades supremas, que usam o medidor de vingança, carregado ao ser atingido ou derrotar inimigos específicos. Ambas as categorias possuem boa variedade e são muito úteis para derrotar grupos ou algum oponente mais parrudo.
Cenários e inimigos
O jogo é dividido em 12 fases, que são liberadas em blocos conforme o jogador vai terminando os estágios. Por exemplo, após o término da primeira, são apresentadas mais três opções que podem ser completadas em qualquer ordem.
Cada cenário busca explorar aspectos diferentes da construção do jogo. Certas fases são mais lineares e focadas em combates diretos, enquanto outras podem oferecer grande liberdade e diversos objetivos espalhados, caminhos ocultos, segredos e colecionáveis, que podem estar bloqueados atrás de obstáculos que necessitarão de uma habilidade que Joe ainda não tem. Ao final de cada fase, um chefe é derrotado e alguma melhoria é desbloqueada.
Como cada estágio pode ter uma duração bem maior do que o esperado, são dispostas diversas estátuas de serpente ao longo do mapa, que servem tanto para restaurar a vida, quanto como pontos de salvamento e teletransporte. Art of Vengeance reconhece sua proximidade com o gênero metroidvania, então salva automaticamente nestes locais permitindo que os jogadores possam sair no meio de uma fase sem perder todo o progresso. Obrigado por isso, LizardCube.
Existe uma boa variedade de oponentes para enfrentar e cada um deles se comporta de forma bem diferente. Alguns jogam shurikens, outros partem para o corpo a corpo com golpes amplos, lentos, ágeis, mágicos, flechas e mais. Isso sem falar dos chefes, que não decepcionam nem um pouco, com mecânicas específicas e únicas para cada um deles. O jogo também conta com o retorno de um chefe do primeiro jogo da franquia, que embora não tenha sido tão bem aproveitado, se mostrou como uma homenagem divertida.
No futuro, Art of Vengeance receberá uma DLC já confirmada, trazendo chefes de outras franquias da SEGA, com destaque para Robotnik, além de novos desafios de speedrun, ampliando ainda mais o conteúdo disponível.
Progressão e segredos
Um dos elementos mais interessantes de Art of Vengeance é sua progressão. Como dito antes, são obtidas melhorias após as batalhas com chefes, que podem ser habilidades de movimentação utilizadas em fases subsequentes ou que permitem acesso às áreas que antes estavam bloqueadas; amuletos equipáveis que fornecem buffs a certas habilidades; aumento de vida ou de sua barra Ninpo.
Existem também vendedores espalhados pelos mapas. Estes usam de colecionáveis para ampliar seu estoque recheado de habilidades e novos ataques para deixar seus combos ainda mais letais e satisfatórios.
Estas relíquias usadas nas lojas compõem um dos três grandes objetivos opcionais da exploração, junto de desafios de combate e de movimentação.
Pouca enrolação e muita gameplay
A trama de Shinobi: Art of Vengeance busca criar um plano de fundo simples para dar espaço para o grande astro do jogo: sua gameplay. Joe Musashi encontra personagens ao longo das 10 a 15 horas da jornada, que ajudam nosso protagonista silencioso da sua maneira e oferecem perspectivas diferentes para as ações de Lord Ruse e da ENE Corp. Entretanto, são aparições breves e secundárias.
Alguns podem achar que isso seja um problema, mas se trata claramente de uma opção criativa nada prejudicial ao jogo. Shinobi sempre se destacou como uma franquia “para ser jogada” e não assistida, e o reboot não perde a essência de seus antecessores.
O resultado final é uma experiência redonda e sem enrolação. Cada fase completada e cada upgrade me fez querer voltar às anteriores e explorar o que antes era inacessível. Cada desafio de plataforma me dava a sensação de melhora constante, não apenas como Musashi, mas como jogador. Poucos jogos hoje conseguem passar uma impressão tão satisfatória e engajam de forma que fazer 100% do jogo seja tão natural.